segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Crer é também pensar

Ninguém deseja um cristianismo frio, triste, intelectualizado.

Mas será que isso significa que temos que evitar a todo custo o “intelectualismo”? Não é a experiência o que realmente importa, e não a doutrina? Muitos estudantes fecham suas mentes ao fecharem seus livros, convencidos de que ao intelecto compete apenas um papel secundário, se tanto, na vida cristã. Até que ponto têm eles razão? Qual é o lugar da mente na vida do cristão iluminado pelo Espírito Santo?

Tais perguntas são de vital importância prática, e afetam todos os aspectos de nossa fé. Por exemplo, até que ponto devemos apelar à razão das pessoas em nossa apresentação do evangelho? A “fé” implica em algo completamente irracional? O senso comum tem algum papel a desempenhar na conduta do cristão?

Tendo esses e outros problemas em vista, o Rev. John Stott aborda neste livreto o lugar da mente na vida cristã. Explica por que o uso da mente é tão importante para o cristão, e como se aplica em aspectos práticos de sua vida. E faz também um vigoroso apelo aos cristãos para mostrarem “uma devoção inflamada pela verdade”.

CRISTIANISMO DE MENTE VAZIA

O que Paulo escreveu acerca dos judeus não crentes de seu tempo poderia ser dito, creio, com respeito a alguns crentes de hoje: “Porque lhes dou testemunho de que eles têm zelo por Deus, porém não com entendimento”. Muitos têm zelo sem conhecimento, entusiasmo sem esclarecimento. Em outras palavras, são inteligentes, mas falta-lhes orientação.

Dou graças a Deus pelo zelo. Que jamais o conhecimento sem zelo tome o lugar do zelo sem conhecimento! O propósito de Deus inclui os dois: o zelo dirigido pelo conhecimento, e o conhecimento inflamado pelo zelo. É como ouvi certa vez o Dr. John Mackay dizer, quando era presidente do Seminário de Princeton: “A entrega sem reflexão é fanatismo em ação, mas a reflexão sem entrega é a paralisia de toda ação”.

O espírito de anti-intelectualismo é corrente hoje em dia. No mundo moderno multiplicam-se os pragmatistas, para os quais a primeira pergunta acerca de qualquer idéia não é: “É verdade?”, mas sim: “Será que funciona?”.

(...) Este mesmo espectro de anti-intelectualismo surge freqüentemente para perturbar a Igreja cristã. Considera a teologia com desprazer e desconfiança.

(...) Grupos de cristãos, muitos dos quais, pentecostais, fazem da experiência o principal critério da verdade, pondo de lado a questão da validade do que buscam e declaram. Mas uma das características mais sérias, de pelo menos alguns neo-pentecostais, é o seu declarado anti-intelectualismo.

Um dos líderes desse movimento disse recentemente, a propósito dos pentecostais, que no fundo "o que importa não é a doutrina, mas a experiência”. Isso equivale a por nossa experiência subjetiva acima da verdade de Deus revelada. Outros dizem crer que Deus propositadamente dá às pessoas uma expressão inteligente a fim de evitar a passagem por suas mentes orgulhosas, que ficam assim humilhadas. Pois bem, Deus certamente humilha o orgulho dos homens, mas não despreza a mente que ele próprio criou.

Estas três ênfases - a de muitos católicos no ritual, a de radicais na ação social, e a de alguns pentecostais na experiência - são, até certo ponto, sintomas de uma só doença, o anti-intelectualismo.

São válvulas de escape para fugir à responsabilidade, dada por Deus, do uso cristão de nossas mentes.

Retirado do livro:

Crer é também pensar, de John R. W. Stott

Para sua edificação espiritual, este livro está disponível para download na seção "Baixe por aqui" neste site.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Perguntas Retóricas

Estive pensando em algumas coisas ao longo dos últimos anos e, de tão intrigado que fico com algumas delas, decidi colocar minhas indagações na forma de perguntas. Algumas das perguntas ouvi de outros, como a 4, a 5 e a 6, que aprendi com Juan Carlos Ortiz (do livro “O discípulo”), mas a maioria veio de experiência própria.

Resolvi utilizar o mesmo estilo de argumentação de Philip Yancey, no seu livro “I was just wondering” (“Perguntas que precisam de respostas”, editora Textus). Afinal, como diz o ditado, “perguntar não ofende”...

Eu só queria saber:

1. Por que palavras como “paixão”, “fogo”, “glória”, “poder” e “unção” vendem muito mais CDs do que “graça”, “misericórdia” e “perdão”?

2. Por que aqueles que mais falam sobre “prosperidade” evitam sistematicamente textos como Tiago 2:5, I Timóteo 6:8 e Habacuque 3:17-18?

3. Por que se fala tanto em dízimo, defendendo-o com unhas e dentes, mas quase nada se fala sobre ter tudo em comum e outras coisas como “ajudar os domésticos na fé” e “não amar somente de palavra e de língua mas de fato e de verdade”? Em qual proporção a Bíblia fala de uma coisa e de outra?

4. Por que em Atos 4, quando os apóstolos foram presos, a igreja orou de forma tão diferente do que se ora hoje? Por que não aproveitaram a ocasião pra “amarrar o espírito de perseguição”, pra “repreender a potestade de Roma”, ou coisa semelhante?

5. Por que Atos 2:4 é muito mais citado como modelo do que era a igreja primitiva do que Atos 2:42?

6. Por que todo mundo sabe João 3:16 de cor, mas tão pouca gente sabe I João 3:16?

7. Por que 90% ou mais dos cânticos congregacionais modernos são na primeira pessoa do singular, quando a proporção nos salmos é muito menor?

8. Por que todo mundo aceita que Jesus curou e colheu espigas no sábado, aceita também que Deus ordenou que seu povo matasse vários povos rivais, mas se escandaliza absurdamente quando alguém diz que Raabe fez certo ao mentir para preservar duas vidas? O que vale mais, em situação de conflito, que um soldado pagão saiba a verdade ou a vida de dois homens? Será que se Raabe tivesse dito a verdade, teria sido elogiada em Hebreus 11?

9. Por que quase tudo que se vende numa livraria cristã foi produzido nos últimos 50 anos, se nosso legado é de 2.000 anos de História do Cristianismo? O que aconteceu com os outros 19 séculos e meio?

10. Por que tanta gente que acredita que a salvação é pela graça, ou seja, não é obtida sendo “bonzinho”, paradoxalmente acredita que ela pode ser perdida sendo mau? Pode algo ganho sem mérito ser perdido por demérito?

11. Por que a Igreja é muito mais rigorosa com pecados sexuais como o homossexualismo do que com a gula ou a ganância? Aliás, por que em tantas igrejas a ganância nem é vista como pecado, mas como virtude, disfarçada com o nome de “prosperidade”?

12. Por que tantos evangélicos chamam seus líderes de “apóstolos”, mas criticam os católicos por seguirem um líder chamado “papa”?

13. Por que, mesmo o Cristianismo crendo que o homem foi nomeado por Deus como o responsável pela criação, e que tudo que Deus criou é bom, são os esotéricos os que mais lutam pela defesa do meio-ambiente?

14. Por que, na maioria dos grupos de louvor no Brasil, não há espaço pra quem toca instrumentos brasileiros como o cavaquinho e o berimbau?

15. Por que todos os ritmos de origem na raça negra até hoje são considerados por alguns como diabólicos?

16. Por que alguém como Lair Ribeiro faria mais sucesso como pregador hoje do que, digamos, Francisco de Assis ?

17. Por que se canta tanto sobre coisas tão etéreas como “rios de unção” e “chuvas de avivamento”, ao passo que Jesus usava sempre figuras do cotidiano para ensinar, como sementes, pássaros e lírios?

18. Por que se amarra, todos os anos, tudo quanto é “espírito ruim” das cidades, fazendo marcha e tudo, mas as cidades continuam do mesmo jeito? Aliás, se os “espíritos ruins” já foram “amarrados” uma vez, por que todo ano eles precisam ser “amarrados” de novo?

19. Por que uma doutrina como o pré-tribulacionismo, que apregoa que Jesus vai tirar a igreja da reta de qualquer sofrimento ou perseguição, não faz sucesso algum na China, no Irã ou na Indonésia? Aliás, por que ela fazia tanto sucesso na China pré-comunista, e depois declinou por lá?

20. Por que se canta todos os dias “Hoje o meu milagre vai chegar”? Afinal, ele não chega nunca? Que dia está sendo chamado de “hoje”?

21. Por que Jó não cantou “restitui, eu quero de volta o que é meu”, nem declarou ou amarrou nada, muito menos participou de “campanha de libertação” quando perdeu tudo?

22. Por que tanta gente acredita que a terra e o universo foram criados há 6 mil anos, interpretando Gênesis 1 literalmente, mas esses mesmos nunca dizem que o sol gira em torno da terra, interpretando literalmente Josué 10, tampouco dizem que a terra é retangular, interpretando literalmente a expressão bíblica “os quatro cantos da terra”?
[Nota do site Monergismo.com: Embora seja verdade que nem todos os textos da Escritura devem ser interpretados literalmente, Gênesis 1 não é um desses casos. Vale lembrar ainda que Gênesis 1 não traz nenhuma evidência de que o universo foi criado há 6 mil anos, embora creiamos que a Terra seja bem mais jovem do que as diversas teorias — vale lembrar que elas não passam disso, ou seja, teorias! — humanistas sugerem. Para saber mais sobre esse e outros assuntos, visite a seção Criação do site www.monergismo.com e ouça a palavra do Prof. Adauto Lourenço sobre criacionismo]

23. Por que nós nunca vamos ao médico e pedimos, “doutor, dá pra queimar essa enfermidade pra mim por favor”? Por que então se ora pedindo isso pra Deus? Seria correto orar assim pra Deus curar alguém enfermo por causa de queimadura?

24. Por que não se faz um mega-evento evangélico, desses que reúnem um milhão de pessoas ou mais, pra fazer um mutirão para distribuir alimentos aos pobres ou ainda para recolher o lixo da cidade? Aliás, por que se emporcalha tanto as cidades com óleo e outras coisas nos tais “atos proféticos”? Não seria um melhor testemunho limpá-la ao invés de sujá-la?

25. Por que as rádios evangélicas tocam tanta coisa produzida por gravadoras ricas e nada produzido por artistas independentes?

26. Por que se faz apelo ao fim de uma “pregação” que não fez qualquer menção ao sangue, à cruz, ao arrependimento, ou sequer ao pecado?

27. Por que se enfatiza tanto a ordem bíblica para pregar a Palavra e se negligencia tanto as ordens para fazer justiça social e alimentar os famintos? Quantas vezes cada uma delas aparece na Bíblia?

28. Por que Deuteronômio 28:13 (“o Senhor te porá por cabeça, e não por cauda”) é tão citado, ao passo que I Coríntios 4:11-13 (“somos considerados como o lixo do mundo”) ninguém gosta de citar?

29. Por que quem pensa diferente de nós é sempre “inflexível”, “fariseu” ou “duro de coração” (quando não chamamos de coisa pior)?

Renato Fontes

Este artigo é parte integrante do portal http://www.monergismo.com/.