domingo, 12 de julho de 2009

Ostracismo Clerical

Na antiga Grécia praticava-se um tipo de desterro político, que não importava em ignomínia, desonra nem confiscação de bens. Este juízo era a condenação ao afastamento, por um período de dez anos, do cidadão cuja presença era considerada perigosa que, por sua grande influência nos negócios públicos e por seu distinto merecimento ou serviços (ou bisbilhotice), se receava que quisesse atentar contra a liberdade pública. Os votos do desterro eram escritos sobre cascas de ostra untadas de cera, daí a origem do termo ostracismo.

Pois bem, no contexto clerical da contemporaneidade faz-se notória a serventia prosaica desse modus operandi nos líderes despóticos ao deparar-se com a grandiosidade de casos de perseguições a laboriosos seminaristas dentro das igrejas evangélicas. Basta, assim, o pajem emitir alguma nota dissonante para passar à sinistra e ser de imediato condenado ao que chamo ostracismo clerical.

É claro que, na maioria dos casos, onde há esse tipo de ocorrência é no segmento chamado de neo-pentecostalismo. Isso em razão das características próprias desses movimentos, os quais muitas vezes são fundados devido à ruptura com uma liderança local legítima, e após isso seguindo-se várias divisões e ramificações conduzidas por “pastores” sem formação teológica, apesar de que, como percebe-se também nas seitas, serem possuidores um certo magnetismo capaz de arrebatar seguidores de outras ramificações e também das conhecidas igrejas históricas.

Esses novos líderes leigos sem lastro e compromisso teológico, movidos por suas aspirações macromaníacas e de sucesso secular a todo custo, abdicam dos princípios elementares da exegese e hermenêutica bíblica em prol de um maior ajuntamento humano em torno de si, oferecendo em suas reuniões um cardápio de práticas religiosas diferenciadas e heterodoxas ao gosto da néscia freguesia.

Nesse tipo segmento não há espaço para a honesta imersão bíblica e nem para a exposição íntegra e singela do Evangelho de Cristo. Portanto os vocacionados que buscam a sua instrumentalização nos reconhecidos seminários teológicos protestantes são deveras tratados como perturbadores do rebanho, isso muito em razão da fobia desses líderes de que ocorra uma divisão em seu séquito, a mesma que causaram com seus primeiros atos insurgentes.

Como seminarista, isso aconteceu comigo e certamente continuará acontecendo com muitos outros. Como, de fato, nada passa despercebido pelo Todo-Poderoso, faço parte dos que, pela ortopraxia, agradecem a Ele por haver sido livre da mão opressora desses que, na verdade, nem crêem na justiça suprema, mas sim, como nas suas próprias vidas vê-se refletindo, numa orfandade niilista.

Marcelo.