terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Nossa Igreja Brasileira: o que aconteceu, como chegamos a esse estado?*

Uma pergunta intrigante. Haverá alguém em condições de respondê-la? Acredito que não; o que não nos impede de tentar formular teorias.

Década de 60

Rubem Alves tirava o, chamado, “terceiro mundo” do ostracismo teológico, nos colocava na ordem do dia, dava o pontapé inicial do que viria a ser conhecido como “Teologia da Libertação”. “Foi um dos primeiros a elaborar as implicações da fé bíblica, da perspectiva da luta dos oprimidos por sua emancipação.” [1] Como disse Harvey Cox: “O ‘terceiro mundo’, de pobreza, fome e impotência impostas – e crescente indignação, encontrou uma voz teológica que se houve como um sino. Rubem Alves, um protestante brasileiro...”[2], passávamos de meros depositários para “fazedores” de teologia. A ele se seguiram gente como Gustavo Gutierrez, Juan Luis Segundo, Leonardo Boff, Frei Beto, entre outros. Uma teologia que nasceu em solo protestante e medrou em solo católico, penso que, entre outras as coisas, porque a vanguarda evangélica foi o primeiro foco de resistência à ditadura que foi abafada porque, como disse Rubem Alves, as Igrejas protestantes, como prova de lealdade ao “Estado”, entregaram “os seus próprios filhos ao sacrifício.” [3]

Década de 70

Lausanne, Suíça, (1974) um congresso de evangelização fora convocado por grande parte da liderança tradicional, de então, um congresso para estimular os evangélicos à evangelização e à defesa de seus princípios seculares, mas, graças, mais uma vez, à contribuição de teólogos do “terceiro mundo”, tornou-se o fomentador do que seria conhecido como a Teologia da Missão Integral. “Conforme Chris Sudgen, do Oxford Center for Mission Studies, a apresentação de René em Lausanne 74 mudou o curso da história, e isto simples e basicamente porque este levantou e disse: ‘O contexto no qual se evangeliza é tão importante quanto qualquer coisa, ao se decidir acerca do significado do Evangelho para aquele mesmo contexto. ’[4] Além de Padilla, houve Samuel Escobar e Festo Kivengere, entre outros. Mantendo os princípios bíblico-históricos da teologia protestante, estes pensadores colocaram na pauta teológica, dita ortodoxa, o clamor dos oprimidos, em busca de um Deus que se importasse e de um Evangelho que promovesse libertação. Puseram na ordem do dia o que, embora parecesse óbvio, jazia no berço do esquecimento, isto é, que a “missão da igreja leva em conta a pessoa na sua totalidade, bem como o contexto no qual a pessoa vive. A missão veste a roupa da encarnação. ”[5]

Continua.

Rev. Ariovaldo Ramos.


Notas:

* RAMOS, Ariovaldo. Nossa Igreja Brasileira: uma opinião sobre a história recente. São Paulo-SP: Hagnos, 2002

[1] ALVES, Rubem. Da Esperança. Campinas – SP: Papirus, 1987

[2] ALVES, Rubem. Da Esperança; Trechos do prefácio de Harvey Cox ao livro A Theology of Human Hope (1969). Campinas – SP: Papirus, 1987

[3] Ibidem, p. 29

[4] PADILLA, C. René. Missão Integral; Ensaios sobre o Reino e a Igreja, Valdir R. Steuernagel. São Paulo – SP; FTL-B/Temática, 1992, apresentação, p. 8

[5] – Ibidem – p. 8

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