quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Nossa Igreja Brasileira: o que aconteceu, como chegamos a esse estado?* - Parte II

Décadas de 60 e 70, surge nos EUA uma teologia que veio a ser conhecida como “Teologia da Prosperidade”, tendo Kenneth Hagin como o mais famoso de seus formuladores, prega o direito do cristão à plena saúde e riqueza (prosperidade se torna em aval do abençoado por Deus), do ponto de vista capitalista, com direito a toda acumulação e ostentação inerentes ao sistema. Pobreza e enfermidade são subproduto da falta de fé. Além disso, essa teologia sustenta que certos servos de Deus são revestidos de autoridade especial, um “remake” dos apóstolos do Senhor – ungidos de Deus. E que exercitar a fé é praticar a confissão positiva, isto é, “o cristão será próspero segundo aquilo que ele conhece sobre seus direitos, de acordo com a firmeza com que ele acredita neles e pelo modo como os confessa”.6

Década de 80, as três teologias chegam ao Brasil, o atraso se deveu à já citada eras das trevas que se abateu sobre o país, por conta do golpe militar que instituiu a ditadura e o medo inibidor da pesquisa, do contraponto e do debate sobre a nação e que, como acentuou Rubem Alves, no meio protestante ganhou a força de sagrado, de culto a Deus (que Deus nos perdoe!)
Mais que depressa os jovens que, na década de 70 e início da década de 80, participaram de movimentos jovens como a Aliança Bíblica Universitária, Jovens em Cristo, Jovens da Verdade, Vencedores por Cristo, Sociedade dos Estudantes de Teologia Evangélica entre outros, migraram para a Teologia da Missão Integral. Muitos deles vinham de ter esboçado abraçar a Teologia da Libertação, que chegara um pouco antes, eram conservadores, ficaram incomodados com a doutrina da salvação exposta pelos libertacionistas, mas, também, eram latino-americanos, sentiam o cheiro do sangue que vertia, no dizer de Eduardo Galeano, das veias abertas da América Latina. Tão logo encontraram, em sua teologia de origem, eco para a sua latinidade, para o seu clamor por libertação, retornaram. Gente como Jaziel Botelho, Naamã Mendes, entre outros. Era uma época de muitos sonhos, a Igreja brasileira tinha uma liderança jovem, capitaneada por pessoas como Robson Cavalcanti, Dieter Brephol, Manfred Grellert, Caio Fábio, Osmar Ludovico, Valdir Steuernagel, Paul Freston, entre outros que se destacavam; estávamos prontos para dar nossa contribuição à Igreja tupiniquim, já se desenhava uma nova Eclésia.

Continua.

Rev. Ariovaldo Ramos.
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Notas:
*. RAMOS, Ariovaldo. Nossa Igreja Brasileira: uma opinião sobre a história recente. São Paulo-SP: Hagnos, 2002
6. B. PIERATT, Alan. O Evangelho da Prosperidade. São Paulo – SP: Edições Vida.

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